A estupefacção. Sempre a estupefacção. E depois a dor e a angústia. A dor de quem a sente a angústia de quem a vê de pouco ou nada poder fazer. A inércia do poder a indiferença dos poderosos ou talvez o gozo de alguns. O saber da indiferença… Fome e sede. Pão água justiça compaixão. Por vezes uma simples mão ou um olhar talvez uma palavra. A palavra que falta e a espera do gesto do abraço. A espera de braços titânicos. A resposta a um porquê indignado. E a espera. E a resposta? Haverá desculpas? Homens tantos… enormes pedaços fragmentos de vidas. Cruéis implacáveis sós. Donos de poderes e verdades. Verdades? Enche o corpo de luxos vícios pernas braços crianças e velhos. Não os vês e enches-te deles. Abre a boca e fecha os olhos… fecha-os e sê feliz e chora por ti e faz chorar no mundo a criança que te atacou por te olhar ao jantar por detrás dum olhar morto de fome. Por te pisar o prato requintado que comes. Espanta-lhe as moscas num zapping confortavelmente eficaz. Enche o bandulho e dorme… amanhã vencerás de novo. Amanhã haverá risos entre cabeças em bandejas no fausto banquete dos gordos. E para sobremesa – a dor de quem não vês e um cálice de tirania…
do It. sbozzo s. m., delineação inicial de uma pintura, escultura ou desenho; bosquejo; fig., resumo; sinopse.
9.11.06
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