do It. sbozzo s. m., delineação inicial de uma pintura, escultura ou desenho; bosquejo; fig., resumo; sinopse.

26.5.13


a tarde ligeira depois da hora.

em brando arrimo no respingado bafejo do manto de uma lua cheia há pouco.
a trança de pernas rematada a calcanhar e nádega
e a pele em bronze tom desembaraçada de vestes
casca da vida morna da carne e pulmões cheios de mundo.
quietude arreigada na caixa expiatória morosa cadência.
a mente desarreada vertiginosa num depois da passarada.
cega segue vazia veloz nem credos nem crenças nem fés
pro cura a busca de nós de casca quieta mundo sem pés
sem ladaínhas sem glórias sem caminhos sem estórias
cem sentidos sem sentido o corpo quieto sentado
o ser em vida pasmado vozes caladas perdida razão
tais caminhos tais fados ancorado tronco alma balão
escolhas apostas roleta dados
do dia passado o ocaso o puro acaso é que não



20.3.13


ei-la que airosa irrompe traja leve a luz e cor
descalça desliza entre prados manados de fresco verdor
rendilha a lonjura dos dias das noites furtando o temor
traz no regaço um chilreio atrás da lapela uma flor

semeia sorrisos no rosto amores tímidos paixão
ei-la que chega em preparos ei-la de novo até ao verão



12.2.13


A tarde segue ligeira se ali vais. Esquiva-se serpenteada nas agulhas do tempo. A eternada insipidez às voltas entre pretensos voos de cuco. E ei-lo se a hora se diz a certa. O tempo cantado as horas contadas a uma. E vão cinco – ou já seis? O tempo não te empurra se ali vais. Passa sem que se note como se não passasse. E quanto por ali passou… Declarado a toda a volta, estampado em paredes e tecto, esbatido em abat-jours, toado nos sonhos girados em disco. Ao alto rasgado no papel das paredes ergue-se o inverno do mundo. Imenso para lá do vidro. Do lado onde queima de frio a pele, onde a trespassa e toca o osso. Do lado em que brilha, ainda e por pouco, o sol. Onde cai, a cada dia mais tarde, o escuro que embala a noite e espalha em horizonte a tom pastel o pouco que resta do que foi luz. Em frente rente ao pisar, uma alaranjada dança deixa-se acontecer e num crepitar de faúlhas respinga luz por toda a sala, na procura das brasas que hão-de chegar. Ali a tarde pousa-te as mãos. Amornada no adormecido chá da porcelana que susténs nas palmas. Acalenta-te a alma alenta-te a calma e no regaço da tarde de tempo aninhado no colo és sempre tu e o mundo teu.




18.1.13




perdeste-te na intrincada displicência do ser.. não há já vida que jorre da alma não há já alma que guarde amor.
perdeste-te.. desarraigaste-te da essência do valor. não há já choro que escorra na cara não há carne que saiba amor.
perdeste-te.. da vida dos homens do bem fazer no torpor. não há já pele que te acolha não há no caído do bolso amor.
perdeste-te em terra frieza estranha. não há já casa de morno conforto não há já lar que emane amor.
perdeste-te do estreito trilho da luz. não há já sol que te brihe não há já primaveras de amor.
perdeste-te ou deste-te à perda à ruína. não há já caos que te valha não há maneira de se ser amor.
perdeste-te num dentro de caminhos de divícia onde gigante te sabias sem rumo te sabias caos na solitude no lugar que te sabias bem
perdeste-te e no desabitado lugar do que sobras resta o vazio onde em tragos largos de sofreguidão engoles a frivolidade que sobeja ao mundo

perdeste-te. que raio fazes aqui? que demónios fazes de ti?