do It. sbozzo s. m., delineação inicial de uma pintura, escultura ou desenho; bosquejo; fig., resumo; sinopse.

21.4.14


Abraça-me! Com a força toda que tens! Abraça-me como se fôssemos, num único ser, fundir-nos. Beija-me como quem expia os demónios vivos dum corpo sacramentado. Porque tremes? – perguntas num balbúcio ofegado ao ouvido. Mas não sou eu já quem treme é só o corpo que, mortal e térreo sabe ter que um dia deixar-te. É só a parte feita carne imbuída do inevitável medo que a domina. E o medo é todo corpóreo e orgânico, o medo é todo animal. Abraça-me e deixa que os corpos se entendam, deixa que dancem na nudez fria que embala a noite. Abraça-me. Leva-me o medo na íntima volúpia dos corpos, deixa que colem as almas entre arrebatados calafrios. Enche-me de amor para que o medo não possa caber em mim. Não tenhas medo! – suspiras no entrançar do que pode bem ser um nó já cego de corpos – De que podes tu ter medo? – murmuras em tom retórico como quem não espera resposta, e respondo: De ti. Tenho medo de ti, tenho medo de mim. Tenho medo dos corpos voláteis e frágeis que carregamos juntos, que misturamos e entrelaçamos em deleite e em delírio. Tenho medo do deleite e do delírio. Tenho medo que um dia não haja já medo pra ter, que um dia acabe a volúpia, que um dia acabem os corpos. És jovem, és bela! – dizes em tom de consolo sem que anua ou me conforte. São trinta e cinco, metade dos corpos está gasta. A metade mais viva! A metade maior! Abraça-me. Quem dera gastássemos num só instante o que ainda há-de restar. Num fôlego, num instante sem medos, culpas, remorsos, pudores… todo o resto que houvesse ainda de ser destilado de uma vez no mais pequeno espaço que no tempo se pudesse conter. Abraça-me, funde-te comigo para que não caiba medo entre nós. Funde-te comigo condensa o tempo, se o não páras, todo num último instante. Não tremas, estou aqui. – dizes ainda em consciência e antes de perdermos sentidos escuto-te balbuciado o meu nome entre sorrisos. Abraço-te com a força toda que tenho e sem espaço físico onde possam caber temores perco-me em êxtase inebriada no infinito de ti.




1 comentário:

Anónimo disse...

Finalmente, mais um texo!