Partiste sem adeus. As despedidas caladas na glote sumidas no mudo aperto da voz. Não digas, não há o que dizer. Vai… e foste. E vais de passo firme até à fonte e depois dela. Vais. Levas nas pernas uma força comovedora e um aperto demolidor ao peito. Vais. E veloz como o tamanho que ganha a tua ausência encolhes à distância da vista, a cada passo. Berrei que parasses e não fosses. Que quedasses para sempre. E foste… e vais. Passo a passo um pouco mais a cada dia. Gritei, berrei que me fiz roxo. Tantas vezes quantos passos até à fonte e depois, até ao monte e para lá dele. Quantos dias passaram então? Quantas vidas viveste depois? Ali. Quieto. Em pé junto ao portão. No fim de tarde de mês de ano. No fim de tudo. Mudo roxo de gritos no quieto fim de tarde. Naquele quieto fim. Passo a passo a cada dia. Toda a bagagem que és arrumada num lampejo. Cerrado nos punhos o mundo que te soubeste fazer a vontade do que hás-de ser. O muito o pouco o tudo e o nada. Partes de mundo nas mãos. Sem trouxa nem bagagem. Não digas, não há o que dizer. Vai… e foste. Nunca o disseste. Talvez não tenhas nunca que o dizer… Vai.
do It. sbozzo s. m., delineação inicial de uma pintura, escultura ou desenho; bosquejo; fig., resumo; sinopse.
26.6.10
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1 comentário:
às vezes as palavras não são suficientes e os gritos que saem são mudos de tanta dor...
às vezes o não dizer nada já diz tudo...
Abraço.
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