do It. sbozzo s. m., delineação inicial de uma pintura, escultura ou desenho; bosquejo; fig., resumo; sinopse.

9.12.09

a noite altiva, soberana absoluta. o céu enorme cravado a estilhaços de luz, uma explosão cintilante. preso às estrelas sorrisos aos milhares sorrisos de primeiro ver de céu envoltos em ternura – que, e assim se querem os sorrisos, serão perpétuos. brando corre à deriva um fugaz gosto a nostalgia. o frio espalhado na noite gela narizes rompe casacos rasga a pele. nunca o olhar lá longe perdido cativo no céu. esse céu que conheces desde sempre. ponto a ponto intrincado bordado de luz. esse céu. esse teu céu. enorme alma que carregas e estendes à noite ao luar. às vezes trocado por dia que à noite há que a consumir devagar. hora a hora num bebericar de minutos. a cada ponto seu tempo. voluptuosa e demorada embriaguez. a linha ao fundo carregada de noite separou dela o dia e dorme tranquila com ele. a lua enorme mergulhada inteira no mar veste-o de luz – vês-te? - cheia de vida enche-o de si. enche-o de amor


27.11.09

dá-me a mão e furta o beijo toque suspenso da aurora lânguido e terno instante cravado faz tempo na ânsia desmedida do peito morno na face rubra de inverno salgada de mar corpos sumidos em si mãos cativas no crepúsculo lábios trocados num toque morno gostar

a vida enorme e plena no doce regaço do mar



18.11.09

instante inscrito na alma gravado na pele. tempo que nos cultiva e há-de no fim colher. é a vida – saudemo-la


trinta volvidos e tanto a aprender…

8.10.09

chora a lágrima que te pesa o peito que te rouba o ar. deixa que parta que leve o peso e lave a alma. deixa que corra e se perca no sereno lamento do mundo. que se cumpra no fim o ser para que um dia nasçam as flores de tão suprema manhã.


30.9.09

a singular vertigem cravada na alheia ligeireza do correr quotidiano. só a sina. os risos espalhados à toa pela calçada entretêm o cotejo sabiamente enleado em ilusões de bem estar. o desencontro a cada dia. o solitário salto entre gentes maiores que si próprias. vazias. fartas na ilusão. ínfimas. enormes de si. desamparadas na camuflada vertigem. entrecruzadas humanizadas na criação. o vão esforço da procura o sabe a pouco do corpo presente o abismo entre vidas a alma só. vago no peito baço nos olhos. têm-se de sobra já não se vêem. não se sabem não se vêem mergulhadas de cabeça no abismo. entre vidas entre gentes numa irracional aritmética de resultado único. magotes de gente num só final. beijos trocados sorrisos dispersos apertos mãos dadas. o faz-de-conta onde se enfia o faz que é o tenta ser. quimera tombada no esquecido das ruas feita vertigem quebrada em cacos no reflexo de caminhos cruzados por vezes trocados traçados no amparo da palavra nesse alento. o ânimo possível dos dias. o fértil suco do mundo o único capaz de adormecer a solidão.


“Sou eu, ó noite. Trémulo olhar de lágrimas, na solidão astral, e o frio, o frio, adstringente e nulo, restrito em mim, pequeno, tão só.” V.F.


4.9.09

... semblante solto ao tempo. livre. para além dos dias. um dia. para lá do rosto. num toque. do negro mel do olhar. o sabor. perfil perpetuado no tempo. estático. perfeito a cada dia. um dia. rosto fixo no mundo. num clique. o doce mar de alma. o vislumbre.
notável esboço sublime verbo


“e o mar inteiro entrou na minha casa” – S.G.


18.7.09

a vida sabe a eterno no errante vagar da infância. onde o para sempre é de verdade e o futuro ainda é longe – o futuro é só amanhã… estica-se ao limite a força o riso a vida. vai-se perdendo vagar. aprende-se e apreende-se de mãos lambuzadas sempre dadas ao espanto. os bolsos cheios de mundos os mundos ricos em sonhos os sonhos plenos de vida e os lábios doces de espanto. e perde-se aos poucos vagar. a cada piscar de olhos menos e menos vagar. um dia num piscar vai-se a infância vai-se o vagar vai-se o doce e o encanto vão-se os sonhos vão-se os dias vão-se os bolsos com espanto vão-se os mundos vai-se a vida. o futuro agora é hoje e ontem o amanhã. o desenfreado aperto da chegada a nenhures. os olhos no passado preso à vida rebocada à pressa e ao incontornável passar…
não te percas no passado não o percas. não olhes apenas para trás. há que fazer o caminho há que cumprir a infância os sonhos. e já pouco resta que não a pressa. olha o futuro na cara sente-lhe o quente do bafo. deixa que passe ri-te à pressa e num escárnio vagaroso enche de sonhos os bolsos inspira fundo como da primeira vez e de mão dada à surpresa e à saudade procura o doce dos lábios e de sorriso rasgado sê-te em pleno. o futuro está já aí…

até amanhã


10.7.09

hoje o ponto foi final...



26.5.09

três

a pressa presente do tempo reprime a palavra muda. quieta numa pose eternizada. harmoniosamente suspensa em cordas de entrelinhas quase sempre trajada a negro soletrada em contraste na alvura do papel. emergia do aparo como rio da nascente. viva. límpida. imóvel. riscada na dança da pena dedilhada no pulsar ritmado de botões feitos cinzel. eterna testemunha do tempo que a viu brotar por vezes branda outras em temporais a preto e branco. e dela crescem saudades com o tempo o mesmo que a sustém e inibe e não pára. o tempo que a reprime à pressa e ao aparo que entre infrutuosos riscos jaz inerte na macilenta aridez das folhas…


talvez um dia o tempo se atrase - por ora vão três

13.5.09

"
Se tanto me dói que as coisas passem


Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem
"

S.M.B.A.

9.4.09

o ludíbrio comum do incipiente dia primaveril: um morno e solarengo chilrear envolto em brisa matinal riscada de fresco saca-espirros e prolongada ao final da manhã quando tudo o que é soalheiro lembra praia. esplanada. jardim. passeio. praia. num quente e frio jogado a sombras num fim de tarde de atchins polvilhados com uma leve pitada de verão.

chegou abril. o bom dia continua a não chegar

10.3.09

...vazio...

5.3.09

a sinuosidade do trilho. o rumo. a falta dele. a espera. falta também o ar. o medo nunca falta. ou o aperto. por vezes terror. outras serenidade. paz. poucas. escassas. a antecipação sempre nervosa e o nevoeiro a ensombrar o fluir das horas. tic tanta a pressa tac tão breve tic pára as horas tac pára os dias tic tão breve tac pára o mundo tic esta pressa tac breve tiquetaquear. sempre tão breve. vou ver o mar. vens? senti-lo como quem sente um lar. sem pressas mundanas sem tempo. esboçar trilhos breves pela areia. ver lá longe o infinito. pára o tempo e vem. sentir-lhe o sal da brisa num suspiro o firme abraço a cada vaga e entre salpicos pendurados em instantes talvez dispersemos com a brisa para lá dos dias

vens?

3.3.09

o pouco que somos e nos sabemos. eternos efémeros tolos narcisistas egoístas sanguessugas… qual tolos completamente ignorantes e faltos de inteligência. estúpidos... não o vês? o fim? é tão óbvio tão fugaz… tão inevitavelmente natural. encolhe-te um pouco. o que baste para te sentires. desse tão pouco onde te pensas. desce por um instante ao espaço que te cabe e ao menos uma vez tenta simplesmente ser

26.1.09

queimas gota a gota a parafina toda em luz acendes os sóis que te aquecem os fugazes momentos de paz descascas-te por um instante dos eus que te vestem. desnudas-te ante o trémulo equilíbrio do pavio. tu e o breve e fosco sol. o teu reduto de paz. o tão breve e imenso sol. aqueces a alma aqueces a carne. enrolas-te na fragrância e inspira-la num sereno saborear e do fundo de um suspiro agitas o fosco brilhar e ainda que a não traga toda essa ligeireza lembra paz…

riscos